"Esta semana fui comer o cozido à portuguesa do restaurante "A Escola" por 4,50 €, e que vejo por lá? A corja toda da "Cambra". O presidente dirigiu-se a mim, de mão estendida e tive o prazer de agarrar o guardanapo, ocupando assim as mãos e dar o tradicionalmente gélido "Olá, como está", sem mostrar os dentes. Logo a seguir aparece o fulano do comércio, o tal a quem foi pedida a autorização para os pastéis de bacalhau, que prometeu resposta em menos de duas semanas.
Vou eu assim para ele: Ai, e tal, tipo coiso, o senhor já não precisa de se preocupar com a resposta ao pedido faz agora um ano e meio, e ao qual prometeu resposta breve. O Requerente suicidou-se, entretanto.
Vejo o ex comunista, com calças de bombazina azuis, os típicos sapatos castanhos de sola de borracha ficar verde claro às bolas roxo claro matizadas de amarelo.
E vou eu assim para ele: Ai, e tal, tipo coiso, eu sei como são estas coisas das grandes cidades, muito trabalho, é naquela, tá-se bem...
Vai ele assim para mim: Pois, ainda são duzentas mil pessoas...
E vou eu assim para ele: Pois, quase como Paris, mazólhe, é só para dizer que pode poupar o dinheiro com os selos ou o telefone. Quando uma das suas duas secretárias lhe colocar o projecto novamente sobre a secretária, se é que não o mandou para o lixo, envie-o para o arquivo morto.
Vai ele assim para mim, tentando manter o humor: Pois, morto, como o requerente.
Vou eu assim para ele: Pois, e se calhar não era má ideia comprar um carimbo especial com esses dizeres. Uma vez que tarda tanto em responder, o mais certo é os requerentes morrerem antes da sua resposta. Vá por mim, que ainda poupa mais um bocado de trabalho.
Acendo um Ducados, que o meu vizinho francês me tinha dado e atiro-lhe com o fumo para a cara: Boa sorte com as próximas eleições. Agora é PSD, não é?"