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Um blog duvidoso mas mesmo muito duvidoso.
Face ao escandaloso fracasso de vendas do último número da nossa publicação, que se deve em grande medida à atávica incapacidade do Nuno Júdice de dar entrevistas, e que levou os sindicatos dos pilotos da cp a anunciar nova jornada de luta contra as sanitas entupidas com exemplares da referida coisa, decidiu o conselho de redacção enviar as mesmas perguntas ao autor deste desconhecido mas, estranhamente, conceituado blog (cerca de 3 visitas diárias); ficou acordado que as mesmas sofreriam uma peneiragem de acordo com os seus padrões, isto é: "Quem manda aqui ainda sou eu."
Eis o resultado...
Comecemos por um cliché: Portugal é realmente um país de poetas?
Só se for da bola.
No século XX são muitos.
Nem por isso. Tivemos o Cesariny que poderia ter feito algo de jeito se não andasse sempre tão ocupado a brochar rapazinhos no Príncipe Real até ficar desdentado, sacana do velho. Agora temos o Tolentino de Mendonça mas o homem é padre e evita escrever sobre fornicação. Ora, como toda a gente sabe, inclusive a associação sócio-profissional dos bispos portugueses, sem fornicanço a poesia não medra. Existe ainda o sub-grupo comandado pelo Manuel Alegre que necessitava de um acidente de caça fatal para atingir alguma elevação como, por exemplo, um pequeno baixo-relevo numa cornija do Panteão Nacional. Por este andar não vai lá.
O poeta António Barahona comparou Salazar, na escrita, ao Padre António Vieira.
Ó Carlos Vaz Marques, não me venhas com essas frases tipo passes de ruptura que isto não é nenhuma peladinha. O Tó Hona, como é conhecido em Santa Comba Dão, aproveitou os saldos nas lobotomias que ainda se realizam em Badajoz e depois dá nisto.
Acompanha aquilo que estão a fazer os poetas das gerações mais novas do que a sua?
Não, porque já esgotei a quota de asco a que tinha direito este ano. Salva-se o Tobias Malmequer, cuja obra tive oportunidade de conhecer na porta de uma retrete do hospital de Guimarães onde me desloco amiúde em regime de voluntariado junto do corpus femininus de enfermagem que apresenta sintomas de carência proto-sexual dignos da mais laica piedade. O esquivo autor deixou número de telefone mas quem atende sempre é uma tal de Jocyneide com pronúncia de Minas Gerais e voz de bagaço. Mais um caso de dupla-personalidade muito comum entre génios que preferem a sombra dos lupanares ao brilho dos salões dos grémios (as rimas saiem-me com naturalidade, está bom de ver).
Sente-se bem lido enquanto poeta?
Ó Vaz Marques, nunca sentiste uma vontade irreprimível de mandar alguém pó caralho? Ai não? Olha que eu estou aqui que não me vedo. És um rapaz bem intencionado mas andas com esses miolos feito num oito. Vê-me lá isso, homem.
A sua noção de poema alterou-se?
Sim, desde os revolucionários versos iniciais do meu 18º livro:
"Nas camas dos barões assassinados
Que da acidental queda puritana..."
E por aí fora. Pela tua cara reconheces-te logo, não foi? Escusas de procurar, está esgotadíssimo.
Algumas vez escreveu um diário?
Marques, Marques..tens a estulta lata de me fazeres uma pergunta dessas?! Possuo um pavilhão gineco-desportivo de cadernos espalhados pelas casas das minhas ex-mulheres de forma estratégica de modo a não permitir que mais ninguém a não ser elas consiga lá viver. Começo a sentir um défice de empatia para contigo, Carlos.
Participava nas tertúlias que havia na época?
Aquilo na altura tinha outro nome. Agora não me lembro bem mas creio que rimava com Bórgia.
Onde é que costumava parar?
No final da noite só as mamas da Vera Lagoa ou da Natália Correia tinham essa capacidade de me descomedir.
Alguma vez experimentou outra forma de expressão artística para além da escrita?
Sim, danças de Miranda com matracas, mas cedo fiquei sem parceiros para o mister. Os pauliteiros não tinham estaleca para acompanhar as minhas coreografias avant-garde.
Há entre os escritores actuais algum a que atribua um lugar especial na literatura portuguesa?
À parte o Tobias Malmequer, não senhor, apenas vislumbro uma matilha de sabujos. Mesmo o Norberto Hélder, que não sai de casa derivado a uma hidrofobia aguda, há anos que faz versos recorrendo a uma ferramenta secreta alojada no site do Priberam, mas disso ninguém fala ao passo que eu, ainda a intermete não tinha chegado à europa, já visionariamente escrevia:
"E-mails de amor são ridículos..." ètcéterâ e tal.
Bardamerda para essa gente toda é o que eu te digo, Carlos Vaz.
O seu cânone é o da sua formação literária ou ainda é suficientemente permeável para admitir, a qualquer momento, novos autores nessa lista?
Assim que a Joana Amaral Dias escrever qualquer coisa que possa ser entalada entre uma capa e uma contra-capa e perca aquele sotaque de sopeira com bacharelato, será imediatamente penetrada pelo meu palpitante cânone.