Dutilleul estava como que paralisado no interior da parede. E ainda hoje lá está, incorporado na pedra. Os noctívagos que descem a Rua Norvins à hora em que o rumor de Paris se aquieta, ouvem uma voz abafada que parece vir do além-túmulo e que tomam pelo lamento do vento que assobia nos cruzamentos da Butte. É o Bicho-Mau Dutilleul que lamenta o fim da gloriosa carreira e se queixa dos amores demasiado breves. Certas noites de Inverno, pode acontecer que o pintor Gen Paul, sacando da sua guitarra, se aventure na solidão sonora da Rua Norvins para levar ao desgraçado prisioneiro a consolação de uma canção, e as notas, escapando-se dos dedos entorpecidos, penetram no coração da pedra como gotas de luar e o caralho!
A Glyndebourne é que não me atrevo a ir. Precisava p´rá aí de um comboio humanitário de plantas gramíneas para as viaturas lá chegarem. Pelos decotes especiosos até era bem capaz de valer a empreitada.
Havia em Montmartre, no terceiro andar do 75-A da Rua d'Orchampt, um excelente homem chamado Dutilleul que possuía o dom singular de passar através das paredes sem o menor incómodo. Usava lunetas, uma pequena barbicha preta, e era funcionário de terceira classe no Ministério dos Registos. No Inverno ia para o emprego de autocarro, e quando chegava o bom tempo fazia o trajecto a pé, sob o seu chapéu de coco.