O meu avô materno era gerente de uma sala de cinema antes e depois do Salgueiro Maia entregar uma ordem de despejo no Largo do Carmo a um gajo careca que tinha um programa a preto e branco na tv. O pai da minha mãe adormecia sempre ainda no genérico; logo, era anti-fascista. Mas nunca teve ficha na polícia (os filhos da Pide!). Quando os filmes eram para maiores de 6 anos o avô do meu irmão deixava-nos ficar até ao surgimento em Téquenicólore da imagem do estúdio, que patrocionava a rebaldaria que viria a seguir, momento no qual eu berrava "Paramonte" ou "Unáitede Artistes". Digo eu porque só eu é que ganhava. Sempre. Depois, o arrumador arrastava-nos pelos pés no meio de uma berreiro capaz de abafar qualquer orquestra sinfónica que tentasse seguir a partitura e o escarcéu só terminava no Bar quando nos punham nas beiças dois Sumóis de Ananás fresquinhos.
Ainda hoje o filho mais novo da minha mãe me olha de esguelha com as íris a faíscar enxofre 24 vezes por segundo. Agora é convosco: quem acertar nos nomes dos cavalos que aceleram nesta hiperordinária obra da prima da montagem receberá uma grosa de ovos que deverá ser arremessada - à unidade - quando os paraolímpicos atingirem a Torre de Belém vindos a nado, em pneus ou nas hélices de um cargueiro lá daquele sítio onde decorrem umas jogatinas para onde foram empurrados por engano.
Chove e não é só na minha rua o que poderia induzir-me a retóricas não totalmente verosímeis sobre calotas polares, o consumo de cerveja nas primeiras duas horas do Sudoeste ou, espantosamente até, cair na esparrela de mencionar Quioto. Não me apanham nessa! Em vez disso gostaria de ser elucidado, mesmo que doa como uma vasectomia no Burkina Faso, sobre as qualidades da diplomacia Lusa ao permitir que os nossos paraolímpicos estejam a fazer aquelas figurinhas em Pequim. Para a próxima é que mandam os bons, é?! Não há caralhos nem adjacentes no dicionário dignos de serem porta-vozes do meu rubor inflamado.
Esta coisa é um milagre e também não é uma vénia aos seres autotróficos. Ali à volta cirandava o triplo da população de Quarteira nesta altura do ano que mesmo assim teve a modéstia de se manter oculta na vegetação por entre gemidos de "Ó Martim Francisco deixe a pita da Biba em paz, poramordedeus...".